Depois de viajar por boa parte da Tailândia, foi no Camboja
que meu coração mandou parar.
A cidade de Siem Riep pode ser descrita de tantas maneiras
quanto a variedade de seus visitantes. Mas os visitantes, embora vindos de
muitas partes do mundo, têm todos uma mesma característica. Buscam algum
sentido. Seja um sentido para seu futuro, para o passado ou para o que estão vivendo agora. As pessoas que caminham pelas simpáticas ruas do centro me
parecem estar cheias de histórias para contar. Sentada na porta do meu
delicioso hotel, testemunhei cenas que, para quem escreve, são presentes. Em
frente ao meu hotel fica um restaurante, mais tarde descobri que é um bar gay,
o que pouco importa nesta parte do mundo onde territórios não são demarcações,
são pontos de encontro.
Sentindo por não ter acompanhado o final da história, pedi uma margarita e fiquei imaginando o que teria acontecido. Logo minha amiga
Lizandra chegou e ao tentar tirar uma foto, o moço do caderninho apareceu e se
ofereceu para tirar a foto de nós duas. Aceitamos. Ele pegou a câmera, disse
alguma coisa em alemão que não pude entender e voltou para sua mesa, do outro
lado da rua, acompanhado do seu caderninho.
Nosso Hotel |
Um alemão sentado sozinho escrevia por horas num caderninho
de couro. A capa era velha e algumas folhas se soltavam de dentro. Parava
apenas para dar um gole no vinho australiano que já estava quase no fim.
Na mesa à sua frente, duas mulheres francesas bebiam e davam
gargalhadas. Uma delas desapareceu, deve ter ido ao banheiro, pensei. E foi aí que o alemão levantou-se, pegou seu caderninho, sua garrafa de vinho e, como se
fossem velhos amigos, sentou e começou a conversar. Tudo com a naturalidade de
quem tem muito a dizer e aprecia ouvir. Durante a próxima hora, fiquei lá, do
outro lado da rua, do outro lado da história, observando e tentando entender o
que eles conversavam.
Quando a segunda garrafa já estava no fim, eu, acostumada ao
único motivo que faria um homem se levantar e sentar na mesa de uma mulher, já
esperava o momento em que os dois sairiam juntos.
A amiga voltou, abraçou a que estava sentada, foi
apresentada para o novo amigo e logo me dei conta de que eram namoradas. O papo
continuou e notei que falavam das experiências da viagem. Deram dicas sobre
lugares que haviam passado, pessoas que conheceram.
Fui jantar e quando voltei eles não estavam.
Minha rua. Foto tirada da mesinha em que eu ficava |
Agora escrevia enquanto olhava para onde estávamos.
Levantamos as taças e fizemos menção de um brinde. Foi quando entendi que nas
ruas de Siem Reap, somos autores e também personagens de uma história que nunca
terá fim e por isso será sempre mágica.
Serviço: O Hotel em que fiquei, o Be Angkor é um hotel boutique com apenas 3 quartos. Como estávamos em 6, ficamos com todo o hotel. Além do restaurante ser maravilhoso, o Sat, responsável pela recepção e por tudo o que precisávamos, é uma das pessoas mais simpáticas que já conheci.